DEUS VISITA
E CONSOLA O POVO COM A LIBERTAÇÃO
A visita é um dado da
nossa experiência humana. É um dado antropológico que se reveste
de características particulares e de acordo com as culturas, povos e
sociedades se converte em um fato cultural.

Podemos identificar uma
multiplicidade de visitas: visitas sociais, políticas, de
interesse econômico, religiosas, familiares, etc. Elas podem ser
anunciadas, e portanto preparadas, ou de surpresa. As mesmas podem
ser interesseiras ou gratuitas. Sempre será importante levar em
conta os que visitam - pessoas individuais, representantes de
instituições, grupos, famílias, comunidades ou tribos - e os
que são visitados.
Aproveitamos
agora para refletirmos sobre a riqueza
sócio-cultural, espiritual e missionária da VISITA do Deus de Jesus
Cristo.
VISITAS QUE ANUNCIAM E
PREPARAM A VISITA
A visita assume uma
importância singular na caminhada libertadora do Povo da Bíblia:
nas “horas” de visita o Povo se consolava
experimentando a presença compassiva e misericordiosa
do Deus libertador e parava para celebrar a sua
companhia, louvar, agradecer e invocar a suas bênçãos, tomando
novo fôlego para continuar a caminhada da libertação.
O Deus dos nossos antepassados
(cf. Ex 3,6) é um Deus que se faz presente e intervém na vida da
humanidade através de sucessivas visitas ao seu povo ou a
personagens representativos e privilegiados.
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A visita de Deus fecunda a velhice estéril e multiplica a vida
“Javé visitou
Sara”, mulher de Abraão nosso pai na fé (Gên 17, 4-6) e deu-lhe
“motivo de riso”, tal como tinha prometido (cf. 17, 15-22).
-
A visita de Deus liberta os escravos e julga os opressores (Ex 3, 1-22)
“Javé, o Deus dos
antepassados disse: Eu vim visitar vocês” para passar uma
vistoria e “ver como estão tratando vocês aqui no Egito”
(visita para inspecionar); “decidi tirar vocês da opressão
egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (visita
para libertar); mas como o opressor não facilitará a libertação
de jeito nenhum o mesmo Deus disse “vou estender a mão e ferir o
Egito e farei com que o povo (vocês) conquiste a simpatia dos
egípcios, de modo que, ao partir, não saiam de mãos vazias”
(visita de julgamento).
-
A visita de Deus devolve a esperança aos desanimados e a terra aos desterrados.
“Quando se completarem,
para Babilônia, setenta anos eu visitarei vocês e cumprirei
minhas promessas, trazendo-os de volta (Jr 29, 10). Esse povo do
Exílio, sem segurança alguma, completamente indefeso, se apega em
Deus e descobre que o mesmo Deus que o amou gratuitamente, que foi
compassivo e misericordioso (Sl 25, 5-7; 145, 8-9; Lm 3,
22-23; Is 30, 15-18), continua sendo tal como era. Foi assim que
confiou, esperou e captou a hora da nova visita.
Num mundo de ausência total,
no meio de um povo desterrado, sem força e sem amigos, sem esperança
humana, desprezado e humilhado, sem voz para fazer-se escutar e sem
vontade de falar, manipulado e sem ilusões, abafado pelas estruturas
econômicas e religiosas, chega a visita de Deus consolando
“Consolai, consolai o meu povo diz o vosso Deus...” (Is 40,1),
enchendo de palavra, com significado, o silêncio reinante no
ambiente (v.9), anunciando o fim do castigo (v.2) e o começo da
volta para a terra da liberdade (vv.3-5).
A VISITA DO EMANUEL
Todas as visitas de
Deus nos tempos antigos, mediadas pelos seus enviados, preparavam a
grande e definitiva visita, a visita pessoal, a visita
do Emanuel, “que traduzido significa: ‘Deus está
conosco” (Mt 1,23; cf. Is 7,14). Esta visita, anunciada e
preparada com capricho, é realizada na plenitude dos
tempos (Hb 1,1-4), quando “nos visita
o Astro das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na
sombra da morte, para guiar nossos passos no caminho da paz”
(Lc 1,78-79).Ele veio para ficar.
-
Preparação próxima: visita a Zacarias
O anjo de Deus visitou
Zacarias, esposo da Isabel, os dois marcados pela esterilidade e a
velhice; algum tempo depois Isabel ficou grávida e dizia: “Eis o
que o Senhor fez por mim, no dia que ele se dignou tirar-me da
humilhação pública!” (Lc 1,25). Deus “socorreu Israel, seu
servo, lembrando de sua misericórdia”(1,54).
Terminou para Isabel o tempo
da gravidez e ela deu a luz um filho e Zacarias profetizou dizendo:
Deus VISITOU o seu povo (cf. Lc 2,57-80)
Os vizinhos e parentes
interpretam o nascimento de João como fruto da misericórdia
de Deus para com Isabel (1,58) e se alegraram com eles.
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Preparação imediata: visita a Maria de Nazaré

Ela reconhece a visita
de Deus e, “cheia de graça”, profetiza em nome de todos os
pobres da terra: “O Todo-Poderoso realizou grandes obras em meu
favor e sua misericórdia chega aos que o temem, de
geração em geração; dispersa os soberbos de coração; derruba do
trono os poderosos e eleva os humildes; despede os ricos de mãos
vazias e aos famintos enche de bens (Lc 1,46).
A visita de Deus é fonte
de consolação e misericórdia: gera alegria e auto-estima (sou
importante para Deus!); enche de Espírito Santo (o outro
Consolador); cobre com a força do Altíssimo (providencia
permanente); tira o medo e as incertezas (Lc 1, 28-30); gera Jesus na
carne humana (1,30-36); abre a pessoa para o Projeto de Deus (1,38);
leva à santidade pela fé (1,42-44); gera profecia no coração e
nos lábios (1,4655); joga no caminho do serviço e da missão
(1,39ss); expressa a sua misericórdia de geração em geração
(1,50.54s).
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A “hora” da visita: é tempo de nascimento
Lucas anunciou: “graças ao
coração misericordioso do nosso Deus, o sol que nasce do alto nos
visitará” (Lc 1, 78) e Pablo conformou: “quando chegou a
plenitude dos tempos Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma
mulher (Gal 4,4). É, então, tempo de ConSOLação: estamos-com o
Sol que aquece, vivifica, ilumina, purifica e fortalece.
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Durante a visita: tempo de missão
A vida de Jesus - sua palavra
e atividade libertadora, sua paixão, morte e ressurreição - é a
grande visita que revela a misericórdia do
Deus que vem salvar o seu povo. Essa visita é caracterizada pela
manifestação do amor compassivo e misericordioso que atende
os mais pobres, os pecadores e os não violentos.
Ele inaugura oficialmente a
sua visita lá na Sinagoga de Nazaré, atualizando as profecias
(cf. Is 61,1ss; 58,6) e
desatando um processo novo: processo de
Consolação-Libertaçào-Consolação, não mais referido ao futuro
(o fim do mundo) já que é no “hoje” que as Escrituras se
cumprem (cf. Lc 4,14-30).
Para a oração e reflexão
pessoal ou grupal
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Todo tempo è tempo de advento e de missão, como podemos, inspirados nas visitas de Deus, ser missionários de coração compassivo a atuação misericordiosa, ministros da Consolação-Libertação entre os “aflitos” da terra?
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Deus continua visitando, consolando e libertando o seu povo em escravidão, a través de nós, missionários/as. Você está disposto a se tornar hospede na casa dos outros, diferentes, a sair e ir além das suas fronteiras?Pinturas: Carlos Alberto Zuluaga (CAZ), imc
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